“O jardim florista na entrada dos jardins do Palácio de Cristal, designado ‘Jardim Emílio David’ em homenagem ao seu projetista, o arquiteto paisagista alemão formado pela Escola Real de Formação de Jardineiros, fundada em 1823 em Potsdam, revelou-se uma novidade no espaço de uso público da cidade tendo sido através dele que, em 1865, chegou ao Porto um novo modelo formal e uma nova estética, então vigente na Europa oitocentista.
Pavilhão e jardins foram construídos por iniciativa da Sociedade do Palácio de Cristal Portuense, para realizar exposições agrícolas, hortícolas e industriais, tendo sido inaugurados com a Exposição Internacional de 1865, a primeira que se realizou em Portugal. Passados mais de 150 anos sobre a sua construção, o Jardim Emílio David mantém o essencial do seu carácter e uma significativa integridade do traçado original, marcado por formas geométricas e rigorosa simetria.
A existência de informação histórica, suficiente para atestar o valor e autenticidade do jardim, recomenda o respeito e a manutenção do tecido histórico que chegou até aos nossos dias e a recuperação de elementos ou estruturas desaparecidas, devendo ser enfatizados os aspetos mais caracterizadores da obra de Emílio David, pioneira no Porto e decisiva para o subsequente projeto de novos jardins públicos na cidade.” (Memória Descritiva do Estudo Prévio, 2017)
Neste contexto programático, manteve-se o traçado geral do jardim tendo-se procedido, apenas, a acertos para recuperação dos desenhos dos canteiros que, pelo uso e adaptações ao longo do tempo, foram sofrendo alterações. Estes ajustamentos permitiram repor a regularidade e o equilíbrio do conjunto.
A escolha da vegetação privilegiou espécies já disponíveis em 1865 ou nas décadas seguintes. Foram tidos em consideração o valor ornamental das espécies, a adaptação às condições edafoclimáticas e a disponibilidade no mercado nacional e internacional. Ao nível dos arbustos, privilegiaram-se duas das espécies mais apreciadas de então, as camélias e as azáleas.
Os cultivares de camélias propostos são exclusivamente de origem portuguesa, na sua maioria obtidos anteriormente a 1865, de grande valor ornamental e simbólico, nomeadamente cultivares com designações evocativas da cidade (por exemplo Bella Portuense, Marmorea Portuensis, Miniatura Portuensis, Peonia Rosea Portuensis), com associação direta à história do Palácio de Cristal e dos seus jardins (como “Alfredo Allen”, “Emílio David”, “Lembrança da Exposição”) e com os horticultores e paisagistas do Porto (por exemplo “Surpreza de José Marques Loureiro”, “Duarte de Oliveira”, “Jeronymo da Costa”, “Camillo Aureliano”), reforçando a coleção de camélias dedicada à família real portuguesa. No caso das azáleas e rododendros, a maioria dos exemplares usados na época de construção do jardim já não se encontram disponíveis, o mesmo acontecendo com muitas espécies herbáceas. Procurou-se, tanto quanto possível, escolher variedades e cultivares que, embora mais recentes, se aproximassem das características ornamentais dos exemplares mais antigos, muitos deles registados em gravuras da época.
Foi com este mesmo objetivo que se procedeu à plantação de araucárias em falta nos canteiros em torno da elipse central e à transplantação de exemplares para reforço de todo o conjunto. Do canteiro circular central retirou-se a fonte construída na década de 1940 e foi plantada uma Araucária-do-Chile, em substituição da palmeira originalmente presente no jardim.
Nas orlas do jardim procedeu-se ao melhoramento do solo, através de descompactação, arejamento e fertilização, e ao reforço dos maciços arbustivos de elevado valor ornamental, aumentando a diversidade florística e facilitando as ações de manutenção. Muitos exemplares de árvores e arbustos foram sujeitos a ações cirúrgicas de arboricultura, tendo como objetivo o seu fortalecimento e rejuvenescimento e a recuperação das formas mais naturais.
Procedeu-se à substituição da graminha por um relvado fino, mais apropriado ao carácter do jardim, e à substituição das bordaduras existentes. Na elipse central foram abertos os alegretes, ou açafates, de formas clássicas, delineados por buxo-anão e destinados a herbáceas perenes ou flores de estação, segundo os desenhos originais de Emílio David e distintivos da sua obra.
Repôs-se o pavimento original do jardim, revestindo-se os caminhos de saibro e rematando-os com valetas de pedra de granito de pequenas dimensões. Preservou-se o antigo sistema subterrâneo de drenagem, em caleiras de granito, e construiu-se um novo, com aumento do número de sumidouros, com grelhas em ferro fundido produzidas a partir de modelos ainda existentes no jardim, de modo a garantir um eficiente escoamento superficial da água e, assim, favorecer a conservação do pavimento em saibro.
As esculturas das fontes e as estátuas representando as quatro estações, em ferro fundido e provenientes de fundições francesas, foram restauradas e reposto o efeito bronzeado original. As referidas estátuas foram reposicionadas na sua localização inicial ficando, assim, mais visíveis e promovendo, também, uma distribuição mais equilibrada dos elementos decorativos pelo jardim. As taças de água das fontes foram impermeabilizadas e procedeu-se à instalação de sistemas de bombagem para circuito fechado.
As taças voltaram a ter água e os repuxos dos grupos escultóricos, de efeito idêntico ao original, voltaram a animar as fontes.
Todos os elementos estruturais e ornamentais em granito – taças, peanhas, escadas, muros, muretes, pilares – foram recuperados de acordo com as práticas de restauro de materiais pétreos. Os materiais em ferro fundido – gradeamentos artísticos que encerram o jardim na entrada principal, lampiões que encimam as colunas dos gradeamentos neste troço, bebedouro, colunas de candeeiros do jardim – foram igualmente restaurados visando o restabelecimento histórico do conjunto.
Os bancos existentes foram substituídos por bancos de dois modelos idênticos àqueles que se sabe terem existido anteriormente neste jardim: bancos de ripas e bancos de tábuas. Foi colocado um número substancialmente maior de bancos – ampliando-se a disponibilidade de descanso para mais pessoas –, na sua maioria assentes no caminho mais exterior do jardim onde há sombras e resguardo, facultados pelas orlas arbóreo-arbustivas dos canteiros, assim se enfatizando o carácter elíptico do jardim. Foram também colocados bancos ao longo do caminho mais a sul, permitindo o desfrutar do sol matinal e das vistas para todo o jardim.
A iluminação fez-se, fundamentalmente, com a colocação de luminárias modernas por entre a vegetação dos canteiros mais exteriores, obedecendo a uma métrica enquadrada na geometria do jardim, proporcionando um equilíbrio luminotécnico geral, com valorização das fontes e estátuas e de vegetação notável, nomeadamente das grandes árvores.
A recuperação das antigas bilheteiras procurou devolver uma imagem que reforçasse o valor do alçado principal do jardim, da sua simetria e escala. A intervenção visou recuperar o seu carácter original, através da reposição da cobertura em telha, substituída, em finais da década de 1940, por uma cobertura em betão armado.
Esta operação incluiu a reposição do beirado e dos esquadros e cornija em madeira, elementos que também foram suprimidos nos anos 40. Foram substituídos todos os elementos degradados ou em falta a partir de elementos originais que ainda subsistem. No interior procedeu-se a obras de infraestruturação, de modo a que estes edifícios estejam aptos a acolher novos usos.
Outras obras realizadas no Palácio de Cristal
Palácio de Cristal l Reabilitação do Lago
Palácio de Cristal l Construção de Novo Acesso
Palácio de Cristal l Requalificação da Envolvente
Palácio de Cristal l Consolidação de Muros
Palácio de Cristal l Consolidação da Escarpa
Palácio de Cristal l Avenida das Tílias
Palácio de Cristal l Edifício de Apoio aos Jardins
Palácio de Cristal l Parque Infantil