A Reconversão e Exploração do Antigo Matadouro Industrial do Porto visa transformar o edifício emblemático na freguesia de Campanhã, desativado há cerca de 20 anos, num equipamento âncora na reabilitação da zona oriental da cidade, com base nos eixos da coesão social, da economia e da cultura.
O programa de intervenção prevê a reconversão integral do complexo, mantendo a sua memória histórica e natureza arquitetónica, em espaços empresariais diversificados e polivalentes; espaços comerciais e de lazer de apoio local; espaços destinados à ação social e à ligação com a comunidade local; e espaços de cariz cultural e artístico, destinados à exposição, à produção e ao depósito. O conceito inclui uma grande cobertura que, num só gesto, une o antigo e o novo, com o cuidado e a sensibilidade de quem intervém em património histórico, mas pretendendo criar unidade e identidade num todo tão distinto. Estabelece, assim, um diálogo de escala com as grandes infraestruturas adjacentes, criando também uma ligação de forma subtil entre os materiais e o casario da freguesia de Campanhã.
O desenho da cobertura não só une todo o complexo como, através do seu movimento, sublinha as partes essenciais do programa de reconversão e exploração, servindo estas de pontos de referência e orientação. A proposta cria um impacto visual único para quem atravessa a VCI e imprime à cidade elasticidade, ao mesmo tempo em que ativa o lugar e abre também todo um conjunto de novas oportunidades para os espaços exteriores e comunidade.
A sustentabilidade passiva e o conforto no espaço público foram as premissas para o projeto da cobertura. O novo telhado surge como uma segunda pele, fazendo com que o exterior possa ser usado todo o ano, já que garante ensombramento quando necessário, assegurando simultaneamente a proteção perante chuva na quase totalidade do espaço e permitindo a ventilação natural.
O projeto assenta ainda na necessidade de introduzir um acesso pedonal que estabelece ligação com a cota superior do Metro, mas também na necessidade de criar visibilidade para quem vem da VCI, uma vez que o local se encontra a uma cota inferior. A ponte pedonal, enquanto passagem mais elevada sobre a VCI, que permitirá unir o complexo do Matadouro à zona do Estádio do Dragão a poente, pretende assumir-se como o remate de excelência da estratégia concetual, na medida em que o novo telhado, que confere identidade icónica ao conjunto no extremo norte, acompanha a projeção da ponte até à sua extremidade. Neste sentido, em vez de existir uma nova entidade que configura a ponte, o projeto funde tudo num só gesto.
A passagem aérea, enquanto jardim e miradouro, é o remate mais visível de uma abordagem que cria uma nova identidade, uma imagem única e irrepetível, mas que promove uma narrativa de unidade entre a memória do que existia e a ambição do que o futuro irá oferecer.
Por outro lado, em termos de materialidade, remete tanto para a memória da construção local e muito presente em construções análogas (telha cerâmica, elementos metálicos, vidro e grandes vãos fabris) como sugere também, na sua forma, uma leveza no seu conjunto, uma grande membrana fina que levita, como que subtilmente remetendo para uma plasticidade têxtil, enquanto evocação da grande força dessa indústria na região.
Esta ponte pedonal permitirá a circulação entre o acesso existente na Rua de São Roque da Lameira e a estação de Metro do Dragão e respetivo parque de estacionamento, atravessando o interior do edifício principal, subindo por um edifício novo a construir em altura no topo norte do complexo e atravessando a VCI por intermédio de uma nova passagem superior. Este percurso foi projetado para a circulação de peões e bicicletas.
Com esta nova ligação ao Metro, cria-se uma oportunidade de acesso não só por parte de quem pretende aceder ao Matadouro, mas também de quem habita nas imediações e procura ligar-se ao resto da cidade, ganhando assim um carácter público, de inserção na malha urbana.
O acesso é feito então, a nascente, por um edifício-ponte que serve de jardim e miradouro a todo o projeto e cidade e, por outro, a sul, por duas praças que abrem para a Rua São Roque da Lameira, convidando ao acesso e à interação de quem passa e habita o local.
Os novos espaços verdes têm como inspiração a ideia da “casa portuguesa” e da tradição do jardim-pomar, pretendendo-se criar um jardim de aromas com laranjeiras, limoeiros e plantas odoríficas. Estas zonas servirão como momentos de transição que pretendem qualificar o espaço público na relação com a envolvente direta. Criar, nomeadamente, um buffer sonoro e visual em relação à VCI e ainda jardins diferentes nas grandes zonas públicas de canto opostas, com configurações próprias, tão adequados a crianças e idosos, como a jovens e turistas.
A lógica de intervenção nos edifícios preexistentes assenta numa estratégia de simplicidade, de encontro com tradicionalismo e memória local, mantendo ao máximo os elementos existentes, reabilitando tudo o que seja possível, fazendo, inclusivamente, o reaproveitamento de alguns elementos que estejam devolutos e a escolha de novos materiais com nuance local (granitos e madeiras) e outros com distinção, mas neutros e ecléticos.
A flexibilidade espacial e programática é uma premissa na reformulação dos edifícios, centrando-se em espaços para museu, multiusos e empresas. Tais espaços existentes têm um carácter e uma beleza própria do local que o projeto pretende manter e realçar.
Criou-se um sistema flexível e dinâmico, que não interferisse com o existente, mas que fosse, antes, complementar e ambivalente. Um fio condutor identificativo e global, que simultaneamente assegura que cada espaço é dotado da adaptabilidade de uso pretendida, no confronto com o existente e suas condicionantes.
Dos 20 mil metros quadrados disponíveis para construção, 7885 metros quadrados ficarão sob gestão municipal, sendo o restante explorado pela Oriental HUB, SA.