O Museu da Cidade – Extensão do Douro é uma estrutura viva na cidade, cuja localização revela desde logo o seu carácter central e o seu propósito, posicionando-se entre a cidade e a sua urbanidade e o Rio Douro e todo o seu legado.
A intervenção teve por base o restauro, mas também deve ser entendida como reabilitação, onde as valias contemporâneas foram implementadas. Este é um edifício construído com múltiplas camadas ao longo do tempo, às quais foi acrescentada a do século XXI.
A escolha da cor negra para as fachadas do edifício do Museu tem, na sua génese, o Vinho do Porto. Esta cor está ao longo dos séculos associada a este vinho, aos seus produtores e às suas garrafas. As garrafas negras são uma forma de preservar o conteúdo e também um modo de o distinguir de outros tipos de vinho. Este tema ajudou a diferenciar um edifício comum e a potenciá-lo na paisagem, enquanto museu nobre da cidade. Um ponto de encontro da cidade e das suas gentes e uma sala de “provas” do Porto, para aqueles que o visitam. O Museu da Cidade – Extensão do Douro é composto por dois edifícios centenários na Rua da Reboleira, situados no Centro Histórico do Porto, incluído na Lista de Património Mundial da Unesco, enquanto “Área de Interesse Urbanístico e Arquitetónico” e “Zona Especial de Proteção Arqueológica”. Ambos os edifícios revelam uma construção de modo tradicional, com alvenaria de granito e estrutura interior em madeira e, pontualmente, em ferro.
A requalificação visou, por um lado, a introdução das infraestruturas e os apoios necessários à nova função e, por outro, a reabilitação do património arquitetónico existente.
Nos edifícios foi tomada em máxima consideração o valor patrimonial dos mesmos, bem como o valor histórico e cultural da sua localização. Neste sentido, todos os elementos foram mantidos tal como na sua original condição.
No edifício A (com entrada pelos números 33-37) foram instaladas as funções principais do programa museológico: receção, bilheteira, loja, espaços expositivos e gabinetes técnicos. No mesmo edifício, no piso -1, mas com entrada direta pelo Muro dos Bacalhoeiros (números 134 a 138) foi instalado um wine bar como espaço complementar, que permite somar a experiência da prova à visita.
Este prédio tem a particularidade de ter um acesso duplo: na cota mais elevada pela Rua da Reboleira e, na sua cota inferior, pelo Muro dos Bacalhoeiros. A estrutura de um museu tem por premissa organizadora uma só porta principal de acesso, pois só dessa forma é possível montar um circuito de visita, bem como gerar hierarquia espacial e expositiva. Esta premissa, bem como a necessidade de resolver as duas cotas e as duas entradas diferenciadas, ditou a forma como foi concebida a requalificação.
Assim, à cota alta definiu-se a entrada principal do museu pela Rua da Reboleira, com entrada direta ao piso de receção/bilheteira e acessos verticais (escada e elevador). A partir deste piso, e de forma ascendente, temos mais 3 pisos, sendo estes dominantemente expositivos e assumindo o último piso o papel de espaço de fecho. Neste piso, apresenta-se o pé direito livre de maiores dimensões incorporando o vão do telhado (estrutura de asnas em madeira à vista).
No primeiro piso, acima da receção, está estrategicamente localizada a zona administrativa, que ocupa o piso de menor pé direito livre, conferindo maior conforto na zona de permanência de trabalho e permitindo rápido acesso, tanto aos pisos superiores de exposição, como ao piso inferior onde se situa a receção e a porta principal.
Todos estes espaços foram predominantemente reabilitados em reboco, pintados de cores claras e neutras e iluminados por luz natural e, de forma complementar, por luz artificial. A ligação entre pisos é garantida por um vão de escada contínuo, de circuito claro e de fácil utilização. Por forma a garantir o acesso a todos, foi incorporado um elevador.
A porta secundária, na cota inferior do prédio, com entrada pelo Muro dos Bacalhoeiros, permite o acesso a um espaço de natureza multiusos, nomeadamente sala de provas, wine bar ou zona de outras atividades. Este setor inclui ainda uma cave de arrumos, bem como um núcleo de sanitários.
O edifício B, com entrada única pela Rua da Reboleira (números 16 a 22), foi transformado num espaço polivalente destinado a acolher o serviço educativo do museu e outros eventos.
A função deste espaço é constituir um complemento ao programa principal, e nesse sentido dar uma resposta programática de natureza flexível e polivalente, nomeadamente permitir diferentes ocupações e usos, tais como sala de provas, loja de artigos relacionados com o museu, ou uma pequena plateia para apresentações.